Uma iniciativa para criar um registro abrangente da insurreição do Congresso Brasileiro em 2023 foi lançada como parte do desenvolvimento do Museu da Democracia em Brasília, um futuro museu que irá explorar a complexa história do regime democrático no país.
O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) anunciou o projeto este mês, revelando que o arquivo digital será composto por um acervo de vídeos, áudios e fotografias que documentam os acontecimentos ocorridos no dia 8 de janeiro do ano passado, quando milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro chegou à capital brasileira para protestar contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (conhecido como Lula).
A iniciativa pretende oferecer uma apresentação imparcial do evento, apresentando “conteúdo original e cenográfico” e linguagem objetiva “com abordagens substantivas e sem adjetivos”, segundo comunicado divulgado pelos organizadores. Alguns materiais incluídos no próximo arquivo – como recortes de notícias, prévias de documentários em andamento e outros itens relacionados à insurreição – estão em exibição na primeira exposição online do museu.
Parte do arquivo online será exibida no próximo museu, um projeto de US$ 8 milhões com inauguração prevista para 2025. Além da insurreição, o museu considerará os eventos que influenciaram a evolução política do mundo ocidental, começando pelas origens do pensamento democrático. na Grécia antiga e examinar os acontecimentos nacionais e internacionais antes, durante e depois da ditadura militar de 1964-85 no Brasil.

Uma equipe de técnicos inicia os trabalhos de restauração de Angel (1970) de Alfredo Ceschiatti Pedro França/Agência Senado
O museu será financiado por uma combinação de fundos federais e privados, realizando exposições rotativas e programas cívicos como seminários e cursos educacionais. Sua missão é traçar a implantação da constituição brasileira em 1888, e “contribuir para a evolução política do povo brasileiro em aspectos ainda carentes de sua formação – como a expansão da cultura democrática e o aumento da participação política”, afirmam os organizadores.
Durante a insurreição, milhares de pessoas romperam barreiras de segurança e vandalizaram três edifícios federais projetados por Oscar Niemeyer – incluindo o Palácio do Planalto – listados como Patrimônio Mundial da Unesco. Os manifestantes esperavam que a invasão provocasse um golpe de estado e perturbasse a transição democrática de poder. Policiais, alguns dos quais foram atacados em meio ao caos, foram acusados de permitir os tumultos que se seguiram por não intervirem com rapidez suficiente. Das 1.500 pessoas detidas, cerca de 400 foram presas em conexão com os acontecimentos daquele dia.
Os edifícios visados continham diversas obras de arte que foram danificadas ou roubadas durante a invasão. Entre os visados estava As Mulatas (1962), de Emiliano Di Cavalcanti, encontrado rasgado em sete lugares; Bandeira do Brasil (1995), de Jorge Eduardo, uma pintura da bandeira nacional que foi descoberta em uma poça d’água depois que rebeldes inundaram o chão; e a escultura Angel (1970) de Alfredo Ceschiatti.
Estas obras e várias outras danificadas durante a insurreição estão agora a ser restauradas, incluindo um total de 15 pinturas, uma ânfora de cerâmica portuguesa, uma obra em madeira, duas esculturas em metal e uma obra em papel. Mais de US$ 445 mil foram orçados para o projeto de restauração de um ano, supervisionado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pela Universidade Federal de Pelotas.
As restaurações serão realizadas no interior do Palácio da Alvorada (residência presidencial) de acordo com a vontade do governo Lula e estarão abertas à visitação pública. Em edital no ano passado, o Iphan afirmou que a intenção de ter equipamentos públicos é tanto “incentivar a volta da visitação aos palácios” quanto permitir que “a população visualize como o patrimônio é recuperado, principalmente aquele que ganhou maior significado simbólico após 8 Janeiro”.