No próximo ano, o Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, inaugurará um hotel no local, marcando a primeira fase de um megaprojeto que envolve a construção de vários resorts vinculados ao museu de arte e ao jardim botânico.
A instituição de 140 hectares na periferia de Belo Horizonte teve um aumento significativo no público desde que foi aberta ao público em 2006 e hoje recebe cerca de 5 mil visitantes por dia. Os organizadores esperam que o número de visitantes continue aumentando e registraram 300 mil visitantes este ano até agora, um aumento de quase 40% em relação a 2022. Há alguns fatores que contribuem: durante o verão, Inhotim inaugurou um pavilhão em homenagem a Yayoi Kusama e apresentando uma das obras mais populares do artista. Infinity Rooms, bem como uma grande exposição interna dedicada ao seminal artista brasileiro Rubem Valentim. No próximo ano, pretende acrescentar dez novas instalações permanentes.
O projeto hoteleiro será lançado em três fases. Primeiro, com a conclusão de um hotel de 44 quartos no final de 2024, depois com a construção de um hotel separado de 150 quartos, com inauguração prevista para 2029, e finalmente com a construção de um hotel externo de 150 quartos localizado a menos de um quilômetro de Inhotim. A construção da primeira fase foi retomada no ano passado, após um hiato de quase uma década devido à falta de fundos. O projeto ganhou força em um momento crucial para o Inhotim, enquanto a instituição trabalha para se reestruturar e expandir após a saída de Bernardo Paz, o colecionador de arte brasileiro e magnata da mineração que fundou o Inhotim em 2004 para abrigar sua coleção pessoal. Mais tarde, Inhotim se envolveu em acusações legais contra Paz, que foi acusado de transferir quase US$ 100 milhões em doações feitas a Inhotim para suas empresas privadas de aço e mineração. Paz foi acusado de lavagem de dinheiro em 2017, mas foi absolvido em 2020, após o que minimizou gradativamente seu envolvimento com a instituição.
Entre 2021 e 2022, Paz – que anteriormente financiava 70% do orçamento operacional do Inhotim – doou terrenos, galerias, pavilhões e 330 obras de arte do Inhotim para a instituição. Ele foi dono do hotel parcialmente construído até o início deste ano, quando a propriedade foi transferida para o Clara Resorts, um grupo de eco-resorts com sede em São Paulo. Atualmente, ele não detém nenhuma participação nos próximos hotéis. Paz também transferiu a administração do Inhotim para uma equipe de figuras conhecidas no mundo da arte brasileira e internacional, incluindo Lucas Pessôa, ex-diretor financeiro e de operações do Museu de Arte de São Paulo, que ingressou como presidente e diretor; Paula Azevedo, vice-presidente e ex-diretora de relações institucionais do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; e a diretora artística Julieta González, curadora com experiência anterior na Tate Modern e em outros grandes museus.
“Organizamos nosso plano em três pilares principais: renovar e modernizar a governança do Inhotim, incorporar o acervo particular de Paz e garantir financiamento independente de longo prazo para a instituição”, afirma. “Todas essas iniciativas estão ligadas à mesma ideia de reforçar a missão pública do Inhotim – passar de um acervo particular para uma instituição permeável e porosa, com forte capacidade financeira para investir em sua programação artística.”
Além da criação de um conselho curador com 30 membros, envolvidos na aquisição de novas obras e no desenvolvimento de novos pavilhões no local, o número de empresas patrocinadoras do Inhotim passou de 18 para 35 empresas.
Este ano, o Inhotim também fechou um contrato de patrocínio de dez anos, no valor de US$ 80 milhões, com a Vale, outra mineradora privada sediada em Minas Gerais. Com o seu orçamento operacional anual de 10 milhões de dólares cumprido para o futuro próximo, os organizadores estão agora a trabalhar no desenvolvimento de um fundo de doações e há planos para aumentar a oferta educacional do centro, que será liderado pela diretora artística Júlia Rebouças com Gleyce Heitor, que tem foi contratado para o recém-criado cargo de diretor de educação.
Os organizadores estão esperançosos de que os novos hotéis, juntamente com outras ofertas da instituição, terão um efeito cascata no turismo na região e beneficiarão as comunidades vizinhas, que permanecem em grande parte subdesenvolvidas e gravemente desfavorecidas. A maioria dos residentes das comunidades adjacentes trabalha na mineração ou na agricultura, e quase 50% da população próxima vive abaixo da linha da pobreza.
“Apesar de ser uma instituição privada, temos a missão pública de promover um programa inclusivo e diversificado, bem como fomentar a educação, o conhecimento crítico e o desenvolvimento social e económico como objetivos institucionais fundamentais”, afirma Pessôa. “Precisamos ser um museu socialmente engajado para cumprir o nosso papel nos tempos atuais. Não faz sentido ter este exuberante jardim botânico e esta coleção de arte de primeira linha se não formos capazes de mudar a realidade daqueles que vivem nas comunidades vizinhas.”